Ela se movia em silêncio, os pés descalços no piso frio da cozinha. A primeira luz da manhã mal atravessava a cortina fina, mas ela já estava de pé havia horas. A chaleira apitava, o café estava quase pronto. Seus gestos eram leves, cuidadosos — como quem conhece os mínimos desejos de alguém e os antecipa com devoção.
Cada prato, cada talher era disposto com precisão sobre a mesa. Sabia exatamente como ele gostava do pão cortado, da manteiga passada — nem demais, nem de menos. Seu prazer vinha da ordem, do cuidado, da entrega silenciosa.
Ela não perguntava. Apenas observava. E obedecia.
Sua voz era suave, quando usada. Seu olhar, sempre atento. Ela não se via como inferior — apenas como dedicada. Era na rotina da cozinha, no servir sem esperar, que ela encontrava seu propósito. Não por obrigação, mas por escolha. Uma entrega voluntária, uma forma de amar.
Ali, entre panelas e aromas, ela era submissa. Não por fraqueza, mas por entrega.