Reprodução/redes sociais
Produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos passam a pagar uma tarifa de 50% a partir desta quarta-feira (6).
A medida atinge itens de peso no agronegócio, como café, carne bovina e pescados, e deve gerar prejuízos bilionários para o Brasil — além de encarecer produtos no mercado norte-americano.
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Entenda os impactos em 5 pontos:
Poucos itens do agro na lista de exceções
O peso dos EUA para o agro
Brasil perde, mas EUA também
Como ficam os preço no Brasil
É fácil remanejar produtos para outros países?
1. Poucos itens do agro na lista de exceções
Dos principais produtos que o Brasil exporta para os EUA, somente o suco de laranja entrou na lista de quase 700 exceções à taxa de 50% sobre o que for comprado pelo mercado norte-americano.
A relação cita ainda castanha-do-pará, madeira, polpa de celulose e sisal (veja lista completa).
Quando um produto está nesta lista, o importador americano paga 10% de sobretaxa sobre o que já é usual. Produtos que não foram contemplados passam a ter mais 40% de taxa, somando os 50%.
Entre itens abarcados na lista de exceções, os produtos florestais são os mais exportados para o país de Trump, tanto em volume quanto em valor. No ranking das vendas do agro para os EUA, eles são seguidos pelo café e as carnes, que são alvos do tarifaço de 50%.
2. O peso dos EUA para o agro
Os EUA são o terceiro maior parceiro comercial do agro brasileiro, atrás da China e da União Europeia.
Produtores estimam uma perda de até US$ 5,8 bilhões caso as vendas para o país diminuam por causa do tarifaço.
EUA são o 3º maior cliente do agronegócio brasileiro
g1/Otavio Camargo
O café é o principal alimento que o agro brasileiro vende para os EUA. E o mercado norte-americano é o maior para o café nacional no exterior.
Isso coloca o produto numa situação bastante complexa com a taxação de 50%: as perdas do café com o tarifaço podem chegar a US$ 481 milhões neste ano, segundo a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
“A gente sempre diz que, assim como o Brasil é insubstituível para os Estados Unidos, os Estados Unidos são insubstituíveis para o Brasil”, resume Marcos Matos, do conselho dos exportadores, o Cecafé.
A China, maior cliente das exportações brasileiras, compra pouco café comparada aos EUA, por exemplo. Só a Alemanha importa um volume semelhante (veja abaixo).
Isso já não acontece com a carne bovina. Segundo maior mercado para o Brasil nesse setor, os EUA foram destino de 12% das exportações neste ano — muito atrás da China, que absorveu quase metade do que foi vendido.
Mesmo assim, uma redução nas vendas para os EUA representaria uma perda de US$ 1 bilhão em 2025, de acordo com a associação dos exportadores, a Abiec.
Outros setores menos volumosos, como o dos pescados, do mel e das frutas, especialmente a manga, são bastante dependentes do mercado americano.
Raio X da exportação
arte g1
3. Brasil perde, mas EUA também
O café e a carne bovina são os produtos brasileiros atingidos pela tarifa de 50% que mais devem fazer falta para os EUA.
O país de Trump é o maior consumidor de café do mundo, mas praticamente não tem produção própria. Os EUA importam 99% do café que consomem, e o Brasil é responde por cerca de 30% desse volume. Então, é difícil achar rapidamente quem possa suprir essa quantidade.
O Brasil também é o principal fornecedor de carne bovina para indústrias nos EUA, que a transformam em hambúrguer, por exemplo. O país norte-americano até compra mais carne da Austrália, mas são os cortes que vão direto para os mercados.
A situação se agrava porque os EUA não são autossuficientes em carne bovina e estão com falta de bois para o abate, o que já tem causado uma inflação da carne.
4. Como ficam os preços no Brasil?
O tarifaço poderia significar menos vendas para os EUA e o repasse dessess para o mercado brasileiro. Com mais oferta, os preços baixariam no supermercado, certo? Não será bem assim, segundo economistas ouvidos pelo g1.
Tarifaço pode encarecer ou baratear o preço dos alimentos no Brasil?
Para a carne bovina, a expectativa é de que pode acontecer uma queda inicial nos preços, mas ela não se sustentaria por muito tempo, dizem os especialistas.
Isso porque o tarifaço já está fazendo os produtores diminuírem ainda mais os abates. A medida de Trump só reforça uma tendência que ocorreria com ou sem a medida do governo americano. Assim, a oferta de carne tende a ficar menor nos próximos meses e o preço, a subir.
Os valores do café, que começaram a cair depois de mais de um ano de alta, não devem ser afetados em um primeiro momento.
O setor acredita que as vendas aos EUA não serão paralisadas e que existe espaço e tempo para negociar um alívio. Os grãos colhidos na safra atual podem aguardar até 2026 para serem embarcados.
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5. É fácil remanejar produtos para outros países?
Não seria fácil redirecionar para outros mercados os principais produtos do agro que iriam para os EUA, segundo especialistas ouvidos pelo g1.
Para o café, essa mudança seria complexa, já que cada destino tem exigências próprias de qualidade, tipo e normas fitossanitárias. É uma questão semelhante à enfrentada pelos exportadores de mel.
Café bom do Brasil vai todo para fora?
No caso da carne bovina, nenhum outro destino conseguiria substituir os EUA de imediato, em rentabilidade, segundo os exportadores.
Também tem a questão das preferências, que podem variar conforme o país. Os americanos compram mais a dianteira do boi, usada em hambúrgueres. O consumo no Brasil, por exemplo, se volta mais para a parte traseira, de onde saem cortes como a picanha e a alcatra.
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