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Tarifaço deixa mais de 2 mil toneladas de mel paradas no Brasil

Com o tarifaço, exportação de mel para os EUA deve diminuir.
Pixabay/Pexels
Mais de 2 mil toneladas de mel brasileiro com destino para os EUA estão paradas desde 9 de julho —quando Donald Trump anunciou o tarifaço sobre produtos do Brasil.
As exportações do alimento no mês passado ficaram cerca de 50% abaixo do esperado, segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel).
O cenário preocupa produtores e exportadores, já que os EUA são, historicamente, os principais compradores do mel brasileiro. Nos últimos anos, cerca de 80% das vendas do Brasil para o exterior foram para o mercado norte-americano, ainda de acordo com a associação.
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EUA foi o principal comprador do mel brasileiro em 2023, conforme Abemel.
Arte/g1
Segundo Renato Azevedo, presidente da Abemel, o impacto é ainda maior porque:
a maior parte da produção nacional de mel vem da agricultura familiar, o que compromete a renda de milhares de famílias. Estima-se que o Brasil tenha entre 200 mil e 300 mil apicultores em atividade;
com a queda nas vendas para os EUA, será necessário buscar novos mercados ou redirecionar o produto para o consumo interno.
Enviar o mel que seria exportado para os EUA a outros países não será tarefa fácil neste primeiro momento. Isso porque cada nação ou bloco econômico tem exigências próprias de qualidade, explica Fábia de Mello, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Aumentar o consumo de mel no mercado interno, pelo menos a curto prazo, será um desafio.
“O brasileiro, em geral, só consome mel quando está doente, tratando como um remédio natural”, afirma a pesquisadora.
Saiba mais sobre os impactos do tarifaço no mel a seguir:
Mel orgânico pode ter queda menor nas exportações
Por que remanejar para outros países é difícil
O mel vai ficar mais barato no Brasil?
As estratégias do setor contra o tarifaço
Mel orgânico pode ter queda menor nas exportações
Com a chegada do tarifaço, agora o foco do setor brasileiro é negociar os preços e manter o relacionamento com os clientes, para evitar uma queda ainda maior no volume de mel exportado.
O mercado americano divide o mel em dois segmentos, de acordo com Renato Azevedo, da Abemel:
“mel para ingrediente”, usado na fabricação de produtos como iogurtes e barras de cereal.
“mel de mesa”, produto que é envasado e vendido diretamente ao consumidor.
Nesse segundo segmento, o mel orgânico brasileiro é o preferido das empresas norte-americanas, diz Azevedo. Isso abre espaço para negociação e reduz a chance de que as exportações para os EUA sejam totalmente interrompidas.
👉🏼O que é mel orgânico: para um mel ser considerado orgânico, ele precisa ser produzido em áreas bem afastadas de plantações que usam agrotóxicos — as colmeias têm que ficar a pelo menos 3 a 4 km dessas lavouras. Além disso, o apicultor precisa passar por uma certificação rigorosa feita por empresas especializadas antes de receber o selo.
“Por outro lado, no caso do mel convencional (não orgânico), a exportação para os EUA se tornará totalmente inviável, já que a concorrência de países como Argentina, Uruguai e Ucrânia será muito mais competitiva”, completa Azevedo.
Brasil é o quarto maior exportador de mel para os EUA.
Arte/g1
Por que remanejar para outros países é difícil
O mel é um produto que requer certificação de qualidade para ser exportado. E cada país ou bloco econômico tem regras próprias para isso.
O mel que seria enviado para os EUA não pode ser redirecionado facilmente para a Europa, que é o segundo maior destino do mel brasileiro, segundo Azevedo.
Há cerca de três anos, a União Europeia tornou suas exigências ainda mais rigorosas. Agora, cada apicultor precisa obter a certificação de forma individual.
Isso representa um desafio para o Brasil, já que a maior parte da produção vem de pequenos apicultores, que muitas vezes não têm estrutura técnica ou financeira para atender a essas exigências sozinhos.
“No caso dos EUA, as empresas exportadoras podem criar ‘projetos orgânicos’, cadastrando apicultores e assumindo os custos da certificação. Com a nova legislação europeia, isso não é mais permitido”, destaca o presidente da Abemel. “Por isso, conseguir a certificação orgânica europeia se tornou algo quase inviável para o Brasil.”
O Brasil é o quinto maior exportador de mel do mundo, conforme as Organizações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU).
Arte/g1
O mel vai ficar mais barato no Brasil?
Por conta da diminuição das exportações para os EUA em virtude do tarifaço, a expectativa do setor é que o mel fique mais barato no Brasil, pelo menos nesse primeiro momento.
“O preço vai baixar porque vai ter um volume maior de mel no país. Com mais oferta e menos demanda, a tendência é cair o valor do produto”, explica Azevedo, da Abemel.
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No entanto, essa queda representa um prejuízo significativo para os pequenos apicultores, segundo Sérgio Farias, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA).
“Um apicultor tem, em média, uma renda mensal de R$ 4 mil. Se essa é sua única fonte de renda, ele será fortemente afetado com a queda nos preços. É uma situação crítica”, alerta.
Além disso, o consumo interno não deve ser suficiente para absorver o excesso de produção.
“O brasileiro não tem o hábito de consumir mel. Para ilustrar: para dar conta da quantidade que normalmente vai para os EUA, cada vez que comemos uma colher de mel, precisaríamos comer três”, explica.
Historicamente, a maior parte do Brasil produzida no Brasil é exportada. Em 2023, no entanto, isso foi diferente. “Foi um ano muito atípico, de baixa de importação dos EUA. Durante os anos de 2020, 2021, 2022, a gente teve uma exportação recorde, principalmente por conta da pandemia”, lembra Azevedo. “Naquela época do Covid houve uma demanda gigantesca”.
Os dados de produção de 2024 ainda não foram divulgados pela Abemel.
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As estratégias do setor
O mel não tem prazo de validade, mas pode perder as características exigidas pelos importadores com o passar do tempo.
Segundo Renato Azevedo, é possível manter o produto estocado por até três meses, o que permite uma margem maior para negociação com os EUA neste primeiro momento.
Apesar disso, Sérgio Farias, presidente da Confederação Brasileira de Apicultura (CBA), afirma que, no curto prazo, o setor não tem um “plano B” devido à forte dependência do mercado norte-americano.
Mas, como estratégias de médio e longo prazo, o setor propõe:
Solicitar a inclusão do mel na cesta básica, com redução ou isenção de impostos como ICMS, PIS, COFINS.
Incentivar a compra de mel por programas públicos, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), para uso na merenda escolar
Atualizar, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), os regulamentos técnicos de identidade e qualidade do produto, permitindo o desenvolvimento de novos itens à base de mel para o mercado interno.
Alterar a legislação para que produtos que trazem “mel” no rótulo realmente contenham o ingrediente em sua composição.
Criar um plano de promoção internacional do mel orgânico brasileiro, com foco em agregar valor e ampliar a competitividade nos mercados externos.
(*Estagiária, sob supervisão de Luciana de Oliveira)
A maior parte da produção nacional de mel vem da agricultura familiar.
Pexels
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Fonte:

g1 > Agronegócios

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