25.8 C
Campo Grande
HomeAgronegócioCapixaba coloca banana em tudo? Do soteco à moqueca, fruta é protagonista...

Capixaba coloca banana em tudo? Do soteco à moqueca, fruta é protagonista na mesa e economia do ES

Do soteco à moqueca, banana é protagonista na mesa e na economia do ES
Quem nunca comeu banana-da-terra frita no almoço, uma mariola ou bolo de banana quentinho no café da tarde? No Espírito Santo, a fruta in natura ou em preparos vai muito além de um simples acompanhamento. No Dia Nacional da Banana, comemorado nesta segunda-feira (22), ela mostra sua força e importância tanto na culinária quanto na economia.
Quem chega vindo de outro estado não demora muito a perceber aquilo que os moradores já estão acostumados: “o capixaba põe banana em tudo!”. E isso não é só uma sensação. É fato! Prova disso é que, no Espírito Santo, a fruta aparece em pratos variados, do salgado a sobremesas.
📲 Clique aqui para seguir o canal do g1 ES no WhatsApp
Portanto, não é difícil encontrar banana na moqueca, em feijões tropeiros, nos vinagretes, nas tortas, cucas… E até o umbigo da fruta é utilizado em recheios de pastéis. Fora receitas típicas tradicionais, como o soteco, caldo feito com banana verde presente em comunidades quilombolas de Cariacica, na Grande Vitória.
Essa relação afetiva e cultural se soma à abundância e à força econômica da fruta para o Espírito Santo.
Em 2024, o estado produziu mais de 426 mil toneladas de banana, em uma área colhida de 29,1 mil hectares. A cultura gera aproximadamente 28 mil empregos em sua cadeia produtiva e movimenta mais de R$ 960 milhões por ano.
Setenta e seis dos 78 municípios do estado produzem a fruta, com exceção da capital Vitória e Vila Velha, ambas da Região Metropolitana.
Veja os municípios que mais produzem no ES:
🍌 Itaguaçu (46 mil toneladas)
🍌 Alfredo Chaves (44,8 mil toneladas)
🍌 Linhares (35,3 mil toneladas)
🍌 Iconha (34,8 mil toneladas)
🍌 Laranja da Terra (33,8 mil toneladas)
Do soteco à moqueca, banana tem espaço na mesa e na economia do Espírito Santo.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
LEIA TAMBÉM:
AUMENTO DE PRODUÇÃO: Banco de material genético de banana ajuda agricultores a selecionar as melhores variedades
DIVERSIFICAÇÃO: Incaper testa novas variedades de banana
E fica em Cariacica, também na Região Metropolitana de Vitória, bem pertinho dos centros e da capital, o maior polo de produção de banana orgânica do Brasil, com 3 mil toneladas/ano.
Esses números colocam o estado como o oitavo maior produtor da fruta do país, com produção que vai para o mercado interno, em estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, e também para exportação.
Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), no ano passado, foram exportadas 567,4 toneladas, gerando US$ 456,8 mil para a economia local, e o principal destino das exportações do Espírito Santo foi a Argentina. Nos primeiros oito meses de 2025, já foram exportadas 23,3 toneladas, gerando US$ 26,8 mil.
Banana prata lidera produção
De acordo com o extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Alciro Lazzarini, a produção de banana no Espírito Santo difere de outras regiões do país, que costumam ter meio a meio dos subtipos prata e nanica, também chamada de banana d’água.
“Temos uma quantidade bem maior do subgrupo prata, depois a nanica e a da terra. Fica algo em torno de 80% de banana prata, 15% banana d’água e 5% de banana da terra. Essas são as produzidas em maior escala, mas temos mais de 20 variedades no estado”, pontuou.
Bananal na região de Cachoeirinha, em Cariacica, Espírito Santo.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Lazzarini explicou ainda que a banana produzida no estado, tradicionalmente, está localizada em regiões naturais, de encostas, com solos propícios para o desenvolvimento da cultura. Essa área vai de João Neiva, na Região Norte, até Mimoso do Sul, no Sul. São cultivadas com nível baixo a médio de tecnologia, por isso, a produtividade é mais baixa.
Mais recentemente em Linhares, também na Região Norte, surgiu uma produção de alta tecnologia, com uso de insumos e defensivos agrícolas autorizados. Por lá, a produtividade é maior.
Força da cooperativa para escoar produção e garantir vendas
A banana é o principal produto agropecuário de Cariacica. As três mil toneladas produzidas no ano passado representaram um aumento de 20% em relação ao ano anterior, recorde de produção da cidade.
Desde 2017, a criação da Cooperativa da Agricultura Familiar de Cariacica (CAFC) ajuda a uniformizar e vender a produção no município.
“A gente tinha a necessidade de buscar melhorias de vendas para os agricultores. Existia uma crise de banana naquele momento. A gente juntou os produtores para buscar mercado”, lembrou o presidente da CAFC, Davi Dutra de Barcelos.
Do soteco à moqueca, banana tem espaço na mesa e na economia do Espírito Santo.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Atualmente, são 347 cooperados cooperados, que já expandiram os limites de Cariacica, e estão atuando em 13 municípios, responsáveis pela comercialização de 200 toneladas por ano e faturamento de R$ 13 milhões em 2025.
Municípios com atuação da cooperativa:
🍌 Cariacica, Santa Leopoldina, Viana, Alfredo Chaves, Vargem Alta, Conceição do Castelo, São Roque do Canaã, Santa Teresa, Colatina, Itarana, Baixo Guandu, São Gabriel da Palha e Aracruz.
“Se não tivesse a cooperativa, os produtores ficariam nas mãos de atravessadores e não saberíamos por quanto estaríamos vendendo. Hoje, garantimos preço justo, estabilidade e a certeza de venda”, avaliou Davi.
Em 2025, a cooperativa faz investimentos também em uma fábrica que deve gerar cerca de 50 empregos na comunidade de Cachoeirinha e região.
Produção para outros estados…
O produtor rural Sérgio Boldi é um dos cooperados da CAFC. Produz banana há 35 anos na região de Sabão, em Cariacica, e aposta na banana orgânica desde 2016.
Na propriedade dele, o trabalho começa às 5h, para dar conta de dez hectares onde predomina a cultura da banana-prata orgânica. São aproximadamente 12 mil pés plantados. Em 2024, colheu 63 toneladas. Para este ano, a expectativa é de queda devido a questões climáticas, mas, ainda assim, ele está confiante.
“A banana é sensível a períodos de pouca chuva, dá o cacho, mas não consegue encher, fica fininha, não consegue criar massa. Mas também é sensível ao temporal e ao vento. Como não é um caule de madeira tão forte e tem bastante folha, acaba quebrando ao meio. Este ano, o começo foi de muito vento. Acho que vai dar um pouco mais de 40 toneladas de produção”, avaliou.
Do soteco à moqueca, banana tem espaço na mesa e na economia do Espírito Santo.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Sérgio explicou ainda que o manejo ideal da terra e o próprio ciclo natural da banana possibilitam produção o ano inteiro, com colheitas feitas a cada 15 dias.
“É uma cultura que, plantou uma vez, você vai só conduzindo. Ela vai brotando embaixo da terra, continua crescendo, e dá de novo. De abril a agosto, a produção cai bastante, mas não para. Colheu um cacho, o brotinho embaixo já vai crescendo. Em quatro meses já tem outro cacho”.
Para o produtor rural, a dificuldade atualmente está na mão de obra. Por isso, vizinhos e cooperados circulam nas propriedades da região para ajudar tanto no manejo da terra como da colheita, que é feita toda de maneira manual.
…e produção na mesa das filhas!
A maior parte da produção do Sérgio vai para a CAFC. No entanto, existe ainda uma quantia destinada o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) de Cariacica e do governo do estado.
Só no município, o produtor ajuda a abastecer 31 escolas públicas, incluindo a unidade onde as duas filhas estudam.
“A gente precisa do dinheiro da renda, lógico, mas fica muito satisfeito também em colher um produto e saber que as crianças, filhos da gente, dos amigos, se alimentam com comida boa e saudável”, disse.
Do soteco à moqueca, banana tem espaço na mesa e na economia do Espírito Santo. Na foto, Sérgio Boldi está com as filhas Gabriela Simões Boldi, 9 anos, e Izabela Simões Boldi, 13 anos.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Mas, afinal, capixaba coloca banana em tudo?
Com destaque na produção, geração de empregos e importância para a economia, não é de se espantar que a frutra seja comum no dia a dia dos capixabas.
Para o historiador e professor do curso de gastronomia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Fernando Santa Clara, a banana faz parte da identidade cultural do Espírito Santo.
“Olhando para a história, a gente encontra a banana principalmente no processo de interiorização do estado. À beira-mar, não é característico que a banana fique. Nessas áreas é mais comum o coco, como foi feito pelos portugueses. […] E a partir do momento que se começa a produzir muita banana, a princípio para consumo interno, se desenvolve a relação cultural”, pontuou.
Santa Clara lembrou ainda que, em Cariacica, já no século 19 havia registros do alto consumo da fruta, inclusive em comunidades quilombolas, já que os escravizados tinham conhecimento em como lidar com a banana desde os seus antepassados na África.
“É uma região que protagonizou exemplos de revolta de escravizados, que já tinham conhecimento da banana em suas multiplicidades. Eles popularizaram o Soteco, um caldo feito a partir da banana verde, de preferência nanica. Temos ainda o João Bananeira, personagem de Roda d’Água, que é exemplo do processo de ressignificação da banana além do consumo, que está no prato, mas também em outros lugares, inclusive, compondo o personagem”.
João Bananeira, personagem folclórico e símbolo do Carnaval de Congo de Máscaras de Cariacica, no Espírito Santo. Com rosto coberto por máscara e corpo envolvido em folhas de bananeira, representa resistência cultural e liberdade, com raízes na época da escravidão.
Ricardo Medeiros/A Gazeta
No entanto, a ideia de que a banana está em “todos” os pratos é mais recente.
“A gente não tem registro histórico da moqueca de banana, de quando foi criada ou consumida pela primeira vez. Isso se tornou um fenômeno no começo dos anos 2000. Hoje, alguns estados até têm a banana como opção vegana de moqueca, mas no Espírito Santo o acompanhamento se aliou à moqueca tradicional, que é muito forte e não precisa nem pedir porque está subentendido que vai vir junto. Nos anos seguintes, veio essa história de que se coloca o ingrediente em tudo”.
Alguns pratos citados pelo professor, além do soteco e da moqueca de banana:
🍌 Moqueca de garoupa salgada com banana-da-terra: No século XIX, se comprava peixe salgado, a garoupa era muito comum, e na hora do preparo a banana da terra era utilizada para poder contrastar e tirar um pouco do sal do molho;
🍌 Cuca de banana: uma espécie de bolo de tabuleiro, comum na Região Serrana desde o século XX;
🍌 Torta capixaba e recheio de pastéis: podem ser feitos com o umbigo (ou coração) da banana, como um substituto para o palmito
🍌 Feijão tropeiro: não nasceu no Espírito Santo, e no estado é feito com banana.
Ou seja, na avaliação do professor, a abundância da fruta se uniu à criatividade, passou a integrar a cultura, e ela foi parar na mesa de maneiras inusitadas.
“No Espírito Santo, a banana não aparece como espessante ou escondida na farinha, mas protagonizando alguns pratos e associada a opções muito tradicionais. Eu acho que a gente usa bastante, e sabe usar muito bem, principalmente nesses pratos que criam o contraponto do doce e o salgado chama a atenção”, concluiu.
Moqueca de banana-da-terra. Espírito Santo
Edson Chagas
Banana também é tema na Ales
Duas iniciativas vindas da Assembleia Legislativa também fazem referência à importância do cultivo da banana no Espírito Santo.
O Projeto de Lei (PL) 602/2024, pretende conferir ao município de Alfredo Chaves o título de “Capital Estadual da Banana”. Já o PL 603/2024 propõe a instituição do “Dia Estadual da Banana”, com celebração anual em 22 de setembro, quando também é comemorado o “Dia Nacional da Banana”.
Os projetos são do deputado delegado Danilo Bahiense, que, em sua justificativa, apontou questões econômicas e culturais da fruta para o Espírito Santo e para os produtores rurais.
As duas propostas vão ser analisadas conclusivamente pelas comissões de Justiça, de Agricultura, de Turismo e Finanças e de Constituição e Justiça, mas não possuem previsão para serem votadas.
Serviço: 11ª Festa da Banana de Cariacica
Nos dias 4 e 5 de outubro, acontece também a 11ª Festa da Banana de Cariacica, na comunidade de Cachoeirinha. A programação é gratuita e inclui shows, gastronomia típica, turismo rural, artesanato, entre outros. Colibris do forró e Ricksom Maioli estão entre as atrações.
Destaque para atividades como a Olimpíadas da Banana, que vai eleger o maior comedor da fruta, e o Tombo do Doce da Banana.
📍 Local: Sede da Cooperativa da Agricultura Familiar (CAFC), Comunidade de Cachoeirinha – Cariacica.
ℹ️ Mais informações aqui.
O evento uma parceria da CAFC, Associação das Mulheres Rurais de Cachoeirinha e Sabão (Asmurca), Associação dos Produtores Rurais de Cachoeirinha e Sabão (Aprucas), em parceria com a Prefeitura de Cariacica.
Do soteco à moqueca, banana tem espaço na mesa e na economia do Espírito Santo.
Vitor Jubini/Rede Gazeta
Vídeos: tudo sobre o Espírito Santo
Veja o plantão de últimas notícias do g1 Espírito Santo

Fonte:

g1 > Agronegócios

Comentários do Facebook
- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img