26.8 C
Campo Grande
HomeAgronegócioVeja como as agroflorestas se tornaram um modelo eficiente na produção de...

Veja como as agroflorestas se tornaram um modelo eficiente na produção de cacau

Agroflorestas se mostram eficientes na produção de cacau e outras frutas
O Jornal Nacional apresentou nesta quinta-feira (9) o último episódio da série de reportagens sobre a produção de alimentos em meio às mudanças climáticas. O Tiago Eltz e o Daniel Torres vão mostrar a eficiência das agroflorestas na produção de cacau e outras frutas.
LEIA TAMBÉM
Série especial do JN mostra como o agronegócio brasileiro está enfrentando as mudanças climáticas
Conheça técnicas inovadoras que diminuem o impacto ambiental da produção de carne
Diante das mudanças climáticas, pesquisa genética e tecnologia revolucionam plantio do café no Brasil
Sobraram muitas ruínas do passado da fazenda do bisavô do produtor rural Patrick Assumpção. E quando ele assumiu o lugar, a terra que ele tinha que cultivar também precisava de restauração.
“O solo uma hora se exaure, da forma que se é feita mais tradicionalmente. Revirando solo, botando adubo químico, você fica sempre trazendo insumos externos para poder ter uma colheita de alguma coisa. Quando eu soube que havia outra forma de cultivo menos danosa ao solo, acabou virando não uma obsessão, mas uma forma de vida mesmo”, diz Patrick Assumpção.
A forma de produzir que apaixonou o Patrick é a agrofloresta. O modelo reproduz interações da natureza. Cria ambientes com plantas e árvores misturadas, uma ajudando a outra. E, 16 anos atrás, o Patrick começou a construir uma ilha verde no meio da fazenda.
Patrick Assumpção, produtor rural: Essa aqui é uvaia, bacupari, araçá-boi.
Tiago Eltz, repórter: Tem um quilo de palmito, será?
Patrick Assumpção: Por aí.
Repórter: Um quilo de palmito e uma árvore inteira espalhada aqui. Mas aqui a árvore não se perde.
Patrick Assumpção: Não.
Repórter: Está voltando.
Patrick Assumpção: Vai virar carbono, matéria orgânica. Vai estar nutrindo as outras plantas. Esse é um processo bem, bem manual. Áreas extensas, tem que pensar bem o que você vai fazer. Tem que ter muita mão de obra.
Falta de mão de obra e até a própria diversidade do que se planta nas agroflorestas sempre foram os empecilhos para usar o modelo fora da agricultura familiar, comercialmente, em larga escala.
Repórter: Você errou muito aqui?
Patrick Assumpção: Muito, muito. Principalmente por causa da quantidade de planta que eu coloquei ao mesmo tempo. Já é difícil vender uma coisa. Você vender duas, é duas vezes mais difícil. Vender dez coisas é mais difícil ainda.
A solução pode ser simplificada – e doce.
Repórter: O que eu acho melhor de comer cacau do pé, para mim, é justamente você botar na boca naquela expectativa de gosto de chocolate e não tem nada a ver.
Tayrone Moreira, engenheiro agrônomo: Não te lembra de cara.
Repórter: Não lembra em nada.
Tayrone Moreira: Mas é bem adocicado.
Veja como as agroflorestas se tornaram um modelo eficiente na produção de cacau
Jornal Nacional/ Reprodução
A equipe do Jornal Nacional foi ao sul da Bahia, onde o cacau é parte da história. Em Camamu, ele ainda pode ser encontrado secando até na rua. Mesmo que a produção lá seja só uma sombra do que já foi no passado.
Marcelo Brandão, produtor de cacau: Nós já chegamos a colher aqui 32 mil arrobas, 450 mil toneladas.
Repórter: É cacau, hein?
Marcelo Brandão: Bastante. O ano passado, a gente colheu 9 mil. Então, uma queda bem grande.
Repórter: Por que teve essa queda?
Marcelo Brandão: É doença. A vassoura-de-bruxa destruiu muita produção. E falta de investimento, realmente, de conseguir manter a produção.
Agora, a lavoura dele voltou a crescer, com a parceria de uma empresa que já plantou lá 200 hectares de agroflorestas de cacau, açaí e árvores em áreas de solo degradado. Para entender como o sistema foi adaptado para grandes áreas, vamos ver como a agrofloresta lá se paga enquanto prepara o solo.
Tayrone Moreira: Do ano um até o terceiro ano, quem está compondo a receita é a banana e a mandioca.
Repórter: Tirou dinheiro daqui, tirou dinheiro dali, e aí quando acabar isso aqui, está tirando dinheiro…
Tayrone Moreira: O cacau está começando a produzir. Logo depois, você está fechando quatro anos do açaí. Então, já entra o açaí também produzindo.
Mandioca e bananas colhidas, e o que sobra vai para o chão.
Repórter: Isso aqui é tipo tratamento de choque para terra?
Tayrone Moreira: Toda matéria orgânica gerada no sistema a gente coloca nessa área de 2,5. Aí ela vai degradando aos poucos e vai construindo esse solo. No início, quando pega uma área dessa aqui, ela está em 2% de matéria orgânica, e a depender da quadra, nós conseguimos chegar a ter 3%, 4%. Ou seja, a gente dobra a matéria orgânica em quatro anos.
A monteira de plantas é o caminho para futura agrofloresta.
Repórter: Aqui, a gente vai pisando e eu estou sentindo o pé afundando.
Tayrone Moreira: Isso é resultado do trabalho que estamos fazendo há quatro anos, que é incorporar toda a matéria orgânica produzida no sistema nessa faixa.
Repórter: Mas não é que ele está fofo só por causa dessas folhas que a gente está pisando, não. O que eu estou sentindo fofo é?
Tayrone Moreira: Quilos de biomassa já foram incorporados aqui. Então, é um solo muito mais bem estruturado.
“Cada percentual a mais de matéria orgânica no solo pode chegar a reter 30, 40 mil litros de chuva por hectare durante o período da seca. Às vezes, para uma planta, ela ter uma semana a mais de umidade no solo, 15 dias a mais de umidade no solo, é o tempo necessário para ela passar entre uma chuva e outra com 30 dias de intervalo”, afirma Valmir Ortega, fundador da Belterra Agroflorestal.
Veja como as agroflorestas se tornaram um modelo eficiente na produção de cacau
Jornal Nacional/ Reprodução
A matéria orgânica também deixa o solo mais vivo, com micro-organismos benéficos, criando plantas mais sadias, resistentes a doenças e com menos pragas. Uma lavoura resiliente, que pode ser uma oportunidade de ouro – ou de chocolate – para o Brasil. O clima derrubou a produção mundial. Faltou cacau, e o preço está nas alturas.
“Hoje, claro, no caso do cacau, é até injusto a gente comparar com outras atividades, porque a gente teve, assim, quintuplicou o preço do cacau nos últimos dois anos. “Então, o Brasil pode voltar a ser um grande produtor de cacau e, desejavelmente, na nossa visão, em sistemas que incorporem técnicas regenerativas: agrofloresta, cobertura de solo”, diz Valmir Ortega.
Isso porque nesses sistemas o país pode colher mais que alimento. O mundo precisa reduzir emissões e retirar carbono da atmosfera para amenizar a crise climática. Mas isso custa caro, e os países tentam encontrar formas e discutem quem vai pagar essa conta.
“Os nossos sistemas estocam centenas de toneladas de carbono por hectare ao longo do seu ciclo de vida, mas eles são intensivos em produção de frutos, de óleo, de fibra. Podem virar produto no mercado e remunerar o produtor e os investidores. O resumo da ópera é que tem que ter viabilidade econômica”, afirma Valmir Ortega.
O mercado de carbono é novo, ainda com muitas incertezas. O que se sabe hoje é que ele vai pagar por árvores em pé, porque elas retiram do ambiente e armazenam na madeira e raízes o carbono que o mundo quer diminuir.
Repórter: Então aqui a conta dessa área vai ser fechada com cacau que vai ser colhido ali, aqui é açaí e aqui na frente a gente tem o carbono.
Tayrone Moreira: O carbono das florestas. Exatamente.
Repórter: Então esse é um pé de carbono?
Tayrone Moreira: Esse é um pé de carbono.
O mercado tem acreditado no sequestro de carbono nesse modelo simplificado de agrofloresta startup em larga escala. Enquanto Ortega já captou R$ 500 milhões para os próximos anos, outras empresas se espalham pelo país.
“É um modelo absolutamente comercial. Nós recebemos investimentos de fundos de investimento, padrão Faria Lima, investidores internacionais que vão ser remunerados pelo uso do capital. E tem que fazer com tecnologia. Não dá para imaginar que a gente vai plantar milhões de hectares de agrofloresta e manejar com uma foice, com uma enxada na mão, como um pequeno agricultor é obrigado a fazer o manejo da sua roçada”, conta Valmir Ortega.
Veja como as agroflorestas se tornaram um modelo eficiente na produção de cacau
Jornal Nacional/ Reprodução
E nesse quesito, o pioneiro que errou muito no começo continua olhando à frente. O Patrick agora incuba na fazenda uma empresa que põe um olho eletrônico no futuro desse mercado de carbono. Esse é um escâner de florestas.
Repórter: Agora, isso aí não é vídeo?
Lucas Gewehr, cofundador da Ceres Seeding: Não. Isso é uma nuvem de pontos. O LIDAR vai passando, fazendo a captação de cada pontinho com o laser.
Repórter: E ele consegue ver por dentro da floresta?
Lucas Gewehr: Consegue. Como aqui, eu consigo ver até o tronco de algumas das árvores. Fica mais fácil de medir o carbono. O dado é bem mais preciso do que com só uma foto, por exemplo.
“O que tem aparecido são as promessas do mercado de carbono para essas áreas terem uma valoração maior, além daquilo que ele vai tirar de benefício agrícola. Entendo que o carbono pode ser uma linha de crédito, vamos dizer assim”, diz Patrick Assumpção.
“Se tem algo que nós podemos ser muito competitivos em termos de apresentar soluções de transição climática do planeta, é em soluções baseadas na natureza. Agrofloresta, sem dúvida, é um dos maiores potenciais que a gente tem. Nós temos uma das maiores biodiversidades do mundo. Então, nós podemos desenvolver novas cadeias de produto, nós podemos fortalecer cadeias já existentes. Quer dizer, há aqui um leque de oportunidades muito grande”, afirma Valmir Ortega.

Fonte:

g1 > Agronegócios

Comentários do Facebook
- Publicidade -spot_img
- Publicidade -spot_img