Nove em cada dez professores de todo o país já sofreram violência direta ou testemunharam perseguições e censura contra colegas de profissão. O dado integra a pesquisa “A violência contra educadores como ameaça à educação democrática: Um estudo quantitativo da perseguição a educadoras/es no Brasil”, apresentada na tarde desta terça-feira (9) durante o seminário “As câmeras de vigilância em sala de aula: coibição de crimes, promoção de segurança ou negação do ato de educar?”, realizado no plenarinho Nelito Câmara, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS).
Proposto pela deputada Gleice Jane (PT), vice-presidente da Comissão de Educação da ALEMS, o evento contou com a parceria da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (ADUFMS) e do Observatório Nacional da Violência contra Educadores (ONVE). O debate se originou da previsão de instalação de câmeras nas salas de aula de escolas da rede estadual, conforme estabelece o Projeto de Lei 264/2024, do Poder Executivo. A proposição tramita na ALEMS e tem como relatora a deputada Gleice Jane.
A parlamentar afirmou que, como relatora da proposta, priorizou ouvir a categoria antes de concluir seu parecer. A deputada visitou mais de 20 escolas em quase dez municípios e aplicou, em parceria com a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), um formulário que reuniu respostas de mais de cem escolas, mil profissionais e mais de 30 municípios. “A maioria dos professores apoia a presença das câmeras, principalmente pela sensação de ameaça e vulnerabilidade no ambiente de trabalho. Isso é um dado preocupante, porque mostra o quanto os professores estão se sentindo vulneráveis”, disse. “Há uma tentativa de silenciar o processo educacional. Nos últimos anos, tem ocorrido um assédio muito grande à educação”, acrescentou.
“Demanda legítima, mas resposta equivocada”, considera pesquisador
A apresentação do professor Fernando Penna, coordenador do ONVE/UFF, evidenciou o contexto que leva parte da categoria a ver as câmeras como solução. “A demanda dos professores pelas câmeras nos faz pensar o mecanismo perverso que leva a isso”, comentou. Segundo o pesquisador, quando há precarização do trabalho docente e ataques constantes à liberdade de ensinar, muitos profissionais se veem “acuados, desmotivados, deprimidos, abandonados pela carreira”. Nesse ambiente, explicou, uma resposta imediata pode parecer atrativa. “A demanda parte de um local legítimo, mas a resposta é equivocada”, acrescentou.



